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3 abril, 2024
Fila de espera para comprar automóvel chega a até 4 meses
paralisação de cerca de dez dias nas linhas de produção de automóveis e caminhões pode ampliar a falta de veículos no país.
SÃO PAULO E RIO - A paralisação de cerca de dez dias nas linhas de produção de automóveis e caminhões pode ampliar a falta de veículos no país. As filas para a compra de alguns modelos já chegam a quatro meses, um problema que teve origem na suspensão das linhas de produção entre abril e junho do ano passado e que ganhou fôlego com a escassez de chips e peças este ano.
Já faltam modelos populares e lançamentos nos revendedores, e os preços ficaram mais altos. Ao menos dez fabricantes de automóveis anunciaram que vão suspender atividades diante da escalada da pandemia. Ontem, GM e Honda informaram que vão interromper temporariamente os trabalhos. Toyota, Renault, Volkswagen Caminhões, Volkswagen veículos, Scania, Volvo, Mercedes Benz e Nissan farão o mesmo.
Segundo Paulo Miguel Junior, presidente da Associação Brasileira das Locadoras de Automóveis (Ablas), as locadoras estão recebendo em março modelos encomendados em novembro do ano passado. Com a nova onda de paralisações, a previsão de entrega de ao menos cem mil veículos, encomendados em dezembro, foi adiada do primeiro para o segundo trimestre:
— As montadoras não estão entregando tudo de uma vez. Entregam aos poucos.
Miguel Junior lembra que os veículos ficaram cerca de 30% mais caros desde o ano passado. As montadoras destacam que os insumos tiveram forte alta, como o aço, e uma parte do reajuste já foi repassada. A prévia da inflação de março pelo IPCA-15 já mostrou aumento de 0,99% no carro novo nos últimos 30 dias.
Antônio Jorge Martins, coordenador de cursos automotivos da Fundação Getúlio Vargas (FGV), avalia que, se a situação sanitária piorar, e as medidas de isolamento forem adotadas por um período mais longo, haverá impacto negativo para o setor. No ano passado, as vendas caíram 26% e a produção recuou 31,6%.
— As filas já existem para modelos mais vendidos e lançamentos, e o problema pode se agravar, especialmente com caminhões, entregues por demanda com o crescimento do agronegócio — diz Martins.
Na Brasilwagen, uma das maiores concessionárias da Volks em São Paulo, a espera para receber o modelo Nivus, SUV lançado ano passado, é de 45 dias. Há fila de espera, já que a concessionária fez pré-vendas até maio. O valor do modelo top de linha é de R$ 111 mil. Está em falta o modelo de entrada do Gol 1.0, sem o pacote de opcionais. A espera pelo carro, que custa R$ 56 mil, é de 60 dias. Também está em falta o modelo off-road Amaraok, de R$ 260 mil, que só deve ser entregue em junho.
Na concessionária Absoluta, da General Motors, a falta de modelos é com a linha Onix, o carro mais vendido do país. A espera chega a 90 dias, caso não haja no estoque a cor desejada, segundo a concessionária, tanto para o modelo de entrada (que custa R$ 61,8 mil) quanto para o top de linha sedan (que sai por R$ 91 mil).
Na concessionária multimarcas Auto M. Veículos, no Brooklyn, em São Paulo, faltam os modelos Jeep Compass, Toro, Hylux SW4, Creta.
— A gente até encomenda, mas sabe que não há prazo para entrega. Alegam falta de componentes — disse Max Santos, diretor da concessionária. — Quando tudo passar, vejo que um consumo represado pode nos ajudar. Isso, com as montadoras voltando a operar com normalidade.
A GM informou que vai suspender atividades com retomada no próximo dia 5 em São Caetano do Sul. As prefeituras antecipam feriados para diminuir a circulação de pessoas e reduzir o contágio pela Covid-19. A GM acrescenta que a cadeia de suprimentos na indústria automotiva na América do Sul tem sido afetada pela parada de produção e pela recuperação do mercado mais rápida que o previsto. A produção em Gravataí será suspensa em abril e maio, podendo ter efeitos em junho. A Honda vai suspender a produção e retomar atividades em 12 de abril nas unidades de Sumaré e Itirapina, em São Paulo.
Para Martins, da FGV, caso haja aceleração da vacinação do país, as montadoras têm espaço para aumentar a fabricação, pois várias desativaram o terceiro turno e operam abaixo da capacidade. Caso a parada se restrinja aos dez dias, seria possível fechar o ano com aumento de 15% nas vendas e de 25% na produção em relação ao ano passado.
Na cadeia de fornecedores, as empresas já sentem o impacto. A Visteon Amazonas fornece rádios, painéis e instrumentos. Segundo Sergio Capela, diretor da empresa, o faturamento deve cair 40% em abril com a parada.
Os funcionários de linhas de produção que atendem aos clientes que anunciaram paralisações maiores serão colocados em férias. Já aqueles que trabalham para atender montadoras com menor tempo de pausa usarão bancos de hora. A medida busca evitar as demissões.
— Quase toda a produção é dedicada a montadoras. Com a paralisação, não consigo escoar a produção e preciso cortar gastos.
Fonte: www.oglobo.com
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